31 de dez. de 2019

Romance de filme

dezembro 31, 2019 0 Comments

Nós adoradores de livros românticos sentimos o coração bater mais forte ao ler cenas de romance, cuidadosamente planejadas para nos encantar.
            A sensação dentro do peito após ler um livro com um romance perfeito entre, ás vezes, assemelha-se ao próprio sentimento de apaixonar-se.
Durante a história, há a imensa torcida para um final feliz. Este já anunciado desde os primeiros minutos, o que de certa forma aumenta a expectativa do “GRAND FINALE”. O final inspira quem lê dando-lhe a sensação de que algum dia este chegará para si.
Contudo, o livro acaba quando o romance se inicia, desta forma é apenas um começo. E no nascer de um relacionamento tudo parece perfeito aos olhos apaixonados.
O final real costuma ser muito diferente. Na maioria dos livros se a história continuasse seria mais provável que os protagonistas acabassem se odiando e brigando judicialmente, porém a esperança do acontecimento contrário é o que faz da história tão inspiradora.
Pessoas completamente opostas que se apaixonam. Em relacionamentos reais isso se torna muito mais desafiador do que realmente romântico, pois exigem um constante trabalho e flexibilidade de ambas as partes.
As dificuldades enfrentadas pelos protagonistas apaixonados parecem existir apenas para reforçar ao público o quão intenso é o amor. No mundo real muitos relacionamentos se extinguem ao tropeçarem nas menores pedras. Sabemos disso, mas ainda torcemos pelo contrário.
O garoto malvado, popular e idiota que no decorrer do livro se apaixona e torna-se o Ser mais romântico, provavelmente voltará a ser o mesmo tolo de antes com o passar dos meses.
 Grandes declarações de amor, músicas e poesias declamadas, pedidos de perdão invadindo aviões ou jogando-se ao mar para alcançar navios em partida são quase extintos fora das páginas.
A torcida para que os protagonistas emplaquem um magnífico romance é algo tão emocional e desejado pelos leitores que na maior parte das vezes são ignorados as situações que em outro contexto não seriam bem vistas. Como considerar tudo bem abandonar um possível noivo na véspera do casamento, mesmo que ele não seja um cafajeste, o importante é a nova e fulminante paixão surgida em poucos dias; Traições e mentiras são aceitas; trocas de um irmão por outro não causam constrangimentos; fazer coisas contra lei para recuperar um amor nunca gera consequências.
Sim, tudo muito poético! Afinal na ficção romântica as situações se ajeitam da melhor forma possível. Mesmo todas as possibilidades contagiantemente românticas apresentadas serem quase irreais, voltaremos a lê-los com olhos esperançosos e suspiraremos a cada novo belo final. Por que no fundo só queremos um pouco da magia do romance real ou não.




Compartilhe nos comentários qual foi a cena mais romântica que você leu e recomenda? Beijinhos, S. G. Conzatti

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30 de dez. de 2019

Um telefonema

dezembro 30, 2019 0 Comments


Diariamente recebemos diversos telefonemas. Durante uma vida são milhares. Alguns de conversas animadas de amigos, outros de atualizações de parentes, ou de aborrecimento dos telemarketings.
Telefonemas, acontecimentos cotidianos. Um movimento automático seguido do tradicional “alô”. Mas há aquele telefonema, vindo sem aviso, que muda uma vida inteira. Um telefonema, apenas.
No outro lado da linha uma voz, conhecida ou não, trás a alteração. Ás vezes é uma voz trêmula com o conhecimento da importância daquela ligação. Ou apenas uma voz monótona ao realizar uma simples tarefa e não ter a menor ideia de como aquele será lembrado como o telefonema de sua vida.
Um simples telefonema, de repente trás as palavras de salvação ou desgraça. Uma morte de alguém realmente especial, a oportunidade de emprego tão esperada, o retorno de um amigo queridíssimo, a confirmação do mais importante negócio fechado, uma declaração de amor, uma demissão, um dinheiro vindo em uma hora de desespero, ou uma dívida cobrada quando não se tem como pagar. Talvez a notícia de um nascimento, uma nomeação em um concurso inesperado, a confirmação ou não de uma doença grave, a oferta de realizar seus sonhos, ou apenas palavras vindas na hora certa quando mais nada parecia ser possível.

Desde aquele momento, a cada novo toque, haverá por segundos, o medo ou a euforia do próximo telefonema ser igualmente importante. 

S. G. Conzatti


14 de dez. de 2019

Quando te encontrei - conto de Natal

dezembro 14, 2019 0 Comments
Ser um adolescente dentro de um hospital era difícil por natureza, mas sê-lo em uma noite solitária de Natal era indescritivelmente pior. O horário de visita estendido para as comemorações natalinas acabara, a música e a pequena festa organizada pelas enfermeiras e familiares dos jovens internados foram substituídas pelo silêncio habitual das noites monótonas dentro do hospital.

Alex empurrou-se na cadeira de rodas, usada desde a última cirurgia na perna para retirada do tumor, para fora de seu quarto. O corredor estava vazio, apenas as luzinhas festivas coladas nas paredes faziam algum movimento ao piscarem coloridas.Deslizou até o pátio interno, um espaço aberto para recreação ou banhos de sol para aqueles pacientes capazes de se locomoverem. Precisava sentir o ar puro da noite, manter-se em seu quarto o sufocava como nunca.

Ainda assimilava a última consulta com o oncologista. Alex pensou que receberia alta depois de muitos meses em tratamento, mas os exames informaram a necessidade de mais algumas sessões de quimioterapia. Mesmo os especialistas dando-lhe uma margem grande de recuperação, ele perdera seu otimismo.

O pátio interno era envolvido pelo breu, a única iluminação vinha fraca do pedestal ao meio do lugar. Alex rodou a cadeira até os limites do meio-muro completado até a altura de dois andares por uma grade. Ele escorou os cotovelos no muro e analisou as casas repletas de gente contente em uma noite de Natal, a tristeza embolou-se em sua garganta.

— Noite difícil?
A voz doce o assustou. Girou a cadeira à procura. Avistou mais adiante a silhueta de uma garota deitada no muro com as mãos cruzadas sobre a barriga. Rodou a cadeira até parar à frente dela, intrigado por ter companhia. Ela usava uma pulseira com estrelinhas brancas, ele percebeu.

— O que faz aqui?

— Estou à espera dos fogos de artifício. — Ela inclinou a cabeça para fitá-lo e sorriu tímida. — Todos os anos aquele grupo de casas soltam fogos na noite de Natal. — Apontou para algumas casas ao leste.

— Ah! — Alex olhou para as casas compreendendo que ela devia ser paciente há bastante tempo como ele, provavelmente de outra ala hospitalar. Quis perguntar o motivo de sua internação. Mas ela o interrompeu:

— Nesta época do ano até o ar parece mágico. Como se o tal espírito natalino tocasse os corações e permitisse o melhor de cada um vir à tona. É minha época preferida.

— Já foi a minha, mas estar preso aqui sozinho não ajuda — bufou e admirou as casas aconchegantes onde famílias provavelmente se divertiam.

— A felicidade é algo interno. — Ela se sentou com as pernas a balançar no muro e encará-lo. — Lá fora deve ter pessoas rodeadas da família e uma grande festa, mas que talvez se sintam infelizes.

— Que discurso tolo! — Alex se afastou. — Estamos presos a uma doença e sozinhos, o que tem de bom nisso?

— Talvez nada, mas eu decidi não me entregar. — A garota se ergueu no muro e andou delicadamente na ponta dos pés próximo a ele. Deu um giro e continuou indo e vindo como se dançasse, enquanto cantarolava baixinho. — Sinta a magia no ar.

— Não, desculpe. — Ele balançou a cabeça achando-a louca. — Nenhuma magia.

— Você é um garoto turrão, não é? — Rindo, ela desceu do muro e o rodeou dando saltinhos como se interpretasse uma bailarina. Segurou a cadeira e a puxou, fazendo-o deslizar no ritmo de seus sussurros.
— Ei, me largue!

— Não estou ouvindo. — Ela riu ao aumentar o volume da cantoria e empurrá-lo pelo pátio. — Vamos, se entregue à dança.

— Isso é uma bobeira! — Aborrecido, freou a cadeira.

— Olhe! — Animada, ela o ignorou e se sentou no muro quando o primeiro fogo de artifício explodiu colorido no céu. — São lindos!

Alex se aproximou dela com a cadeira. O céu se tornou azul, vermelho, verde, amarelo como se estrelas piscassem coloridas e derramassem seu pó cósmico em cascatas. Apesar do aperto em seu coração, não podia negar a beleza do momento.

Aos poucos o céu retomou o silêncio, escuro como antes. A garota suspirou encantada e parou em pé ao lado de Alex Olhou-o calada por alguns segundos até estender-lhe a mão fazendo a pulseira deslizar folgada pelo seu pulso.

— Dança comigo?

— Nem tem música!

— Tem sim. — Ela riu ao rodopiar à frente dele. — Nosso salão de dança é iluminado pelas estrelas e, se prestar atenção, ao fundo tem a melodia natalina de uma casa próxima. — Ela inclinou a cabeça como se procurasse decifrá-la. — É “Natal Branco”. — Soltou um risinho. — Mesmo que estejamos em pleno verão, essa é minha canção preferida.

Alex inclinou-se para o muro tentando ouvir a melodia, um som muito fraco e indecifrável se apresentou, nada poderia confirmar ser a tal melodia que ela dissera. A garota rodopiou pelo pátio cantarolando e parou à frente dele.

— Sinta a música. Imagine como seria patinar na neve. Deslizando e deslizando, como se flutuássemos.

— Sério?! Antes era dança e agora já temos até uma neve imaginária?!

— Vamos, use a imaginação.
Ele continuou parado em sua cadeira de rodas acompanhando com o olhar a garota misteriosa fingir uma dança abraçada pela escuridão. Aos poucos, algo dentro dele se alterou e ele se percebeu rindo e batendo palmas quando ela lhe fez uma mesura como se agradecesse ao final de uma apresentação para um grande público.

— Ah! — Ela aproximou o rosto do dele, como se quisesse ver melhor. — Você sabe rir, então.

— Você é estranha, sabia? — brincou ao levar a cadeira para trás e dar um giro rápido.

— Ora, você é bom nisso.

— Meses de treino — respondeu ao fazer novamente a manobra, exibindo-se. Aguentava ficar algum tempo em pé, mas por não poder apoiar-se na perna recém-operada por muito tempo, a cadeira de rodas acabava sendo mais fácil de locomover-se.

— Dance comigo. — Ela sorriu para ele de modo maroto e estendeu a mão em sua direção novamente. — Eu perdi meu baile de quinze anos, seja meu par.

— Ninguém deveria perder sua primeira dança oficial. — Ele tentou ser amigável.

O convite era inusitado, ele nunca dançara quando podia ficar em pé sem dificuldade, e fazer isso em uma cadeira de roda soava estranho. Os olhos dela lhe indicavam a sinceridade do pedido, o qual Alex desejou realizar.

Amparou-se na sua cadeira e levantou-se. Com cuidado, colocou a perna em recuperação no chão. Testou o equilíbrio e a sensação de apoiar seu peso, havia feito isso nas sessões de fisioterapia, no entanto, não do modo fluido necessário para uma dança.

Sorrindo, a garota envolveu seus braços em seu pescoço. Ele apoiou as mãos na cintura dela, e mantinha a atenção nos movimentos lentos começados pelos passos dela enquanto ela murmurava no ritmo de alguma música desconhecida para ele.

Alex sentia-se desengonçado balançando de lá para cá e, apesar da vergonha, ficou ali abraçado à garota. Com o passar dos minutos, ele se esqueceu da tristeza dos últimos dias, como se fosse apenas um adolescente normal bailando em uma festa qualquer.

— Obrigada pela dança — ela sussurrou com a cabeça apoiada em seu ombro. — Deveria fazer um pedido de Natal.

— Para quê? — Alex respondeu indiferente. A perna operada latejou dolorida, mas ele não queria se afastar.

— Talvez se realize.

— Que nada! — Obrigou-se a apoiar-se no muro para tirar o peso da perna em recuperação.

— Quem sabe... — Ela deu de ombros ao se sentar no murinho ao lado dele. — Se não fizer, nunca vai saber. O meu do ano passado se realizou.

— E qual era? — Alex se empurrou para cima do muro, sentando ao lado dela.

— Ver os fogos de artifício.

— Mas você já sabia que teriam fogos... — Ele encolheu as sobrancelhas.

— Os fogos sim, mas qual a garantia de eu poder vê-los?

— Entendo. — Alex fitou a perna, relembrando de sua doença e as incertezas de seu futuro. — Por que está internada?

— Sofri um acidente há dois anos, bati a cabeça e fiquei muito tempo sem poder ver. — Em um gesto de conforto, ele pousou a mão sobre a dela. Ela sorriu aceitando sua amizade. — Apenas ouvi os fogos no ano passado e uma enfermeira me contou como eles sempre iluminavam os Natais. Mas hoje eu posso vê-los e ainda ganhei uma primeira dança de brinde. Sendo assim, não lhe custa fazer um pedido.

— Acredita que os desejos se realizam? — Encarou-a querendo se encher com a esperança vinda dela.

— Minha avó me ensinou que acreditar nos dá forças para lutarmos para que as coisas aconteçam.

— Não sei

— Tente. — Ela sorriu ao mexer na pulseira com a outra mão.

— Tá. — Alex fechou os olhos, pensou em um desejo. O que mais queria era ter sua vida habitual de adolescente de volta. De certo modo, estar ali com ela tinha um gostinho de normalidade. Fitou-a indeciso. — Devo contar o que desejei?

— Dizem que não. — Ela riu. — No próximo Natal, você me conta se foi realizado.

— Você parece bem para estar aqui por mais um ano.

— Recebi alta há poucos dias, só voltei para ver os fogos. — Ela saltou para fora do murinho. — Meus pais me esperam na recepção, preciso ir.

Alex a fitou desanimado ao perceber que a solidão seria sua única companhia novamente.

— Duvido que volte! — ele a desafiou.

Ela retirou a pulseira de estrelinhas brancas, pegou o pulso dele e a colocou. Deu-lhe um selinho e se afastou rindo.
— Essa pulseira é a última lembrança de minha avó, me ajudou quando estive internada. Guarde com carinho, pois virei buscá-la.

— E se eu não puder vir? — Sua voz falhou com medo do desfecho.

— Virá sim. Eu acredito em você.

A garota acenou e correu para a porta, sumindo de sua visão ao alcançar o corredor do hospital. Confuso, Alex acariciou a pulseira, sentiu os vincos nas pedrinhas em formas de estrelas. Aproximou-a da única luz e leu com dificuldade as minúsculas palavras: “Mia, acredite em si mesma”.

Alex sorriu por saber agora o nome da garota misteriosa. Sentou-se na cadeira de rodas e deslizou de volta ao seu quarto. Havia feito uma promessa para Mia e lutaria com todas as suas forças para cumpri-la. Pretendia devolver a pulseira no próximo Natal e, também, o beijo roubado.


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Beijinhos, S. G. Conzatti