25 de fev. de 2020

A espera

fevereiro 25, 2020 0 Comments


Os raios de sol atravessavam a janela e aqueciam o chão de
madeira. Eu o esperava.
A luminosidade percorreu o chão e avançou pela parede. E eu
ainda o esperava.
A claridade deu lugar à escuridão. Ergui-me e observei pela
janela. Passos invadiam a calçada. Carros percorriam a rua. Mas não era ele.
A ansiedade da espera cresceu. Mantive-me em alerta. Será
que ele voltaria?
O vento soprava, as nuvens carregadas anunciava a chegada da
chuva. Era longa a espera.
Então o som familiar da sola de borracha contra as pedras da
calçada fez meu peito disparar. Apoie-me na janela e observei sua silhueta se
tornar cada vez mais nítida. Logo a espera teria fim.
Ele avançou pelo portão apressado, pingos o haviam umedecido.
Pôs a chave na porta e a felicidade explodiu em mim. A espera acabara.
Joguei-me em seus braços, lambi seu rosto e abanei com fervor
a cauda.
Recebi seu abraço apertado e seu sorriso. Finalmente ele estava em
casa outra vez.


cotidiano inspirando versos, nosso cãozinho a espera de meu marido.
S. G. Conzatti

21 de fev. de 2020

Amor literário

fevereiro 21, 2020 0 Comments



As histórias de amor nos transportam para um mundo novo. Um mundo no qual o verdadeiro amor é algo avassalador e pelo o qual faremos tudo.
Quem não sonha com um amor assim?
Quem não suspira diante de histórias tão belas?
Quem não imagina como seria ter ao seu lado alguns desses personagens tão belamente escritos?
Como romântica convicta meu peito bate mais forte a cada nova história de amor lida. Contudo me peguei refletindo sobre o quanto esses personagens poderiam me fazer feliz se por passe de mágica se tornassem de carne e osso.
E estranhamente percebi que por mais que a história funcionasse nas páginas de um livro, no mundo real eu não aguentaria praticamente nenhum desses personagens nem uma semana ao meu lado.
Sei que a ficção aceita qualquer coisa, aceita que vilões sejam amantes extasiantes e que invisíveis se tornem populares em segundos. Mexe com nossas maiores fantasias e medos.
Por tempo engoli muitos desses livros e sonhei com muitos desses personagens, contudo cansei. Cansei de ser seduzida e enganada por frases bem montadas que nos fazem acreditar que personagens com caráter duvidoso seriam namorados cobiçados. 
Por exemplo, muitas caem de amores pelo Mr. Darcy. Entendo o porquê, afinal no livro ele é belo e poderoso. E no filme o ator é cativante. Mas me pergunto se eu conseguiria aguentá-lo na vida real. Um homem carrancudo e cheio de preconceitos?
Ou então, o Sr. Grey? Por mais rico e bonito que seja, como suportar alguém que quer controlar todos os teus movimentos? Já pensou como seria viver com alguém assim? As noites de sexo poderiam ser glamourosas, mas e o resto?
Esses personagens foram escritos para se encaixarem com seus pares românticos, e talvez funcionem muito bem com eles. Mas não funcionariam comigo, então por que suspirar por eles?
Poderia encaixar muitos exemplos aqui. Exemplos que para minhas convicções, do que é um relacionamento, simplesmente não dariam certo se fossem na vida real.
Para cada pessoa as listas de amores literários serão diferentes. Mas o que tenho me perguntado é quais personagens seriam realmente bons namorados e quais nos encantamos por que as escritoras/escritores foram habilidosos em nos seduzir a ponto de ignorarmos todos os defeitos de caráter desses personagens?
Após responder a mim mesma essa pergunta muitos personagens perderam seu espaço em minha lista de amores literários. Pois descobri que quero sim continuar a sonhar com lindas histórias de amor, mas quero histórias em que o personagem me cative por suas características e seus atos durante a narrativa e não mais apenas por que uma escritora/escritor fez manobras literárias para revestir um personagem podre com chocolate para o engolirmos.

Vocês já pensaram sobre isso? Já tentaram imaginar como seria ter seu personagem literário preferido ao seu lado diariamente? Seria com esse personagem que vocês dividiriam seus medos, conquistas e desafios da vida? Ou seria outro?

S.G. Conzatti

18 de fev. de 2020

A árvore e o muro

fevereiro 18, 2020 0 Comments

Uma árvore cheia de vida espalha suas raízes pela terra. Firma-se fundo contra a violência do vento. Busca seus nutrientes da terra e devolve em troca oxigênio, sombra e moradia para pássaros. Sua vida parece em paz. Talvez a árvore pense que não faz mal algum, que ninguém iria lhe machucar. E continua a crescer e crescer.
Então as raízes se deparam com um muro. Algo que não esteve ali no último século. Algo sem vida. A árvore não sabe que aquele muro faz parte de uma propriedade privada. Ela não se importa que foi gasto alguns tostões para construir aquele muro que separa a casa de sua calçada.
Suas raízes continuam a empurrar em busca de vida. O muro racha. Talvez a árvore se sinta vitoriosa ou apenas livre. Talvez pense que possa crescer por mais vários séculos e continuar a fazer seu bem ao ar, aos animais e aos homens.
Mas a árvore desconhece das importâncias do mundo dos homens. Os bens mortos e o dinheiro comandam as prioridades. Haveria muitos gastos em refazer o muro mais afastado. Há material e mão de obra a se considerar.
Um homem olha com raiva para a árvore. Resmunga que ela lhe causará prejuízo, que vai contra a estética que o arquiteto planejou para seu muro. Ele fez os cálculos, a árvore não lhe trás nenhum dinheiro.
E assim sem entender o que fez de errado a árvore é derrubada sem piedade. É picada e queimada. A vida se esvai, mas o muro lá continua esteticamente bonito.
Essa não foi apenas uma árvore azarada. Muitas outras têm o mesmo destino. E no próximo século, ao invés do mundo contemplar o quanto as árvores cresceram, ele vai contemplar as mais belas construções de ferro, tijolo e concreto.
Serão lindas construções, afinal muito dinheiro foi investido e é recebido de retorno. Talvez alguém perceba a falta das sombras e dos pássaros ou na má qualidade do ar. Será que irão se importar?
Afinal vida não tem valor, mas muros sim. Muros custam dinheiro para serem refeitos é mais fácil apenas derrubar a árvore. Ora, quem pensaria o contrário? 

S. G. Conzatti

15 de fev. de 2020

Entre Estranhos

fevereiro 15, 2020 0 Comments

Crescemos imersos em um grupo específico de pessoas, e aprendemos a pensar e agir de acordo com este. As verdades aprendidas parecem incontestáveis, contudo, ás vezes, as vivências distintas, as leituras realizadas, as pessoas que cruzaram nossos caminhos trazendo outras visões, contatos com outras culturas, vídeos e textos causam transformações. E de repente essas verdades já não parecem certas.
As reuniões com antigos grupos tornam-se apenas uma tentativa de lhe retrocederem ao o que você era antes. No entanto aquilo que perdeu seu sentido não tem volta, e no seu interior você sente isso toda a vez em que é obrigado a ouvir as antigas ideias e fingir concordar.
Não poder expressar seus verdadeiros pensamentos torna-o mal-humorado, infeliz, chateado e sem interesse em reencontrar aqueles que antes compartilhavam muito de seu tempo e sua vida. Um grande penhasco se apresenta entre vocês.

E neste momento você se percebe surpreso: Você não entende mais aquelas pessoas e elas não te entendem. Como é possível se sentir rodeado de estranhos diante de pessoas antes tão familiares? E você se pergunta se ainda vale a pena encontrá-los.
S. G. Conzatti


11 de fev. de 2020

Visão turva

fevereiro 11, 2020 0 Comments


O que faz com que amemos alguma pessoa especificamente? Por que as sinapses em nosso cérebro liberam o hormônio do amor de maneira irracional e inconsciente? Não é incomum nos apaixonarmos por alguém que se pensássemos friamente, por um segundo, saberíamos o quão errado isso seria.
            Pergunto-me o que acontece com nosso cérebro que simplesmente ignora os sinais claríssimos produzidos diariamente de que nada daquilo irá nos fazer felizes e mesmo assim continuamos a insistir exaustivamente naquele relacionamento?

Criamos em nossa mente um Ser imaginário que habita a pessoa real a nossa frente. Frustrando-nos toda a vez que a pessoa real se faz presente. Quanto tempo ainda insistiremos nos mesmos erros?

S. G. Conzatti

9 de fev. de 2020

Recomeços

fevereiro 09, 2020 0 Comments

O amor escapou-lhe por sua culpa ou de seu parceiro, talvez de ambos, e a sensação é horrível. Durante algum tempo pensou ter encontrado a pessoa com a qual planejara dividir o restante de sua vida, enganou-se ou algo imprevisto sucedeu.
Novamente sozinho você pensa sobre os acontecimentos e tenta imaginar se faria diferente. Arrepende-se de seus erros ou lamenta os cometidos pelo o outro.
O presente parece sem solução, os antigos sentimentos ainda existem. A raiva ou a tristeza farão parte de você por algum tempo.
Talvez queira que o outro sinta exatamente o que você sente e perderá muito tempo e energia planejando algo para que isso se concretize. Quem sabe tente envolver-se com outra pessoa com o intuído de causar ciúmes ao ex, ou ainda para fingir felicidade.
Isso provavelmente lhe trará mais sofrimento e novamente irá entrar em seu casulo em busca de reflexão sobre o próximo passo.


Alguns retomarão hobbies há muito esquecidos, enfatizarão os relacionamentos com amigos, tentarão recuperar “o tempo perdido”, se agarrarão a parte da família que lhes resta. Ou apenas esperarão a calmaria interior retornar.
E um dia surgirá um novo relacionamento e, de alguma forma, “o fantasma do relacionamento passado” virá lhe assombrar.
O medo de cometer os mesmos erros ou de ser novamente magoado permanecerá a martelar-se em sua mente.
Isso poderá destruir seu novo romance. Ou será a oportunidade de analisar o passado em busca de novas maneiras de amar, algo totalmente novo e não apenas uma repetição de antigos amores.
Dificuldades podem surgir, afinal, é provável, que o outro também tenha mágoas de relacionamentos anteriores. Enquanto você luta para recuperar a crença no amor o outro poderá estar fazendo o mesmo.
O importante é que estará, finalmente, aberto a uma tentativa legítima. Mesmo que, em muitos momentos, ainda cometa erros, trocando ou não de amores, a experiência lhe trará mudanças e a sensação de amar e ser amado fará novamente parte de você.

E se o amor não durar é sempre possível simplesmente recomeçar.

S. G. Conzatti

4 de fev. de 2020

Vida Alheia

fevereiro 04, 2020 0 Comments
Por que perdes anos de sua vida preocupando-se com quem você nem conhece? Por que perde o sono por desconhecidos seguirem suas vidas de maneira diferente da sua?
Quais os motivos das pessoas sentirem-se alarmadas com o que os outros fazem em sua intimidade, que tipo de roupas usam ou no que trabalham, como se isso pudesse interferir em sua existência?
Por que perdes tempo brigando por lutas que não são suas? Gastando sua energia em como casais vivem, em como mulheres decidem sobre ter ou não um filho, em como os outros gastam seu dinheiro?
O que interfere realisticamente na sua vida se alguém na rua está de mãos dadas ou beijando uma pessoa de mesmo sexo? Ou se acreditam em coisas diferentes as suas?
Como insignificante é sua própria vida que você gasta todo o tempo dando opiniões de como os outros devem viver as suas, achando-se responsável pelo bem-estar de quem nunca pediu sua ajuda, e que na verdade você apenas atrapalha?

Por que viver se preocupando, se metendo e interferindo em vidas que não lhe pertencem, quando seria muito mais feliz se apenas guardasse energia para sua própria vida? Por quê? 

S. G. Conzatti