Uma árvore cheia de vida espalha suas raízes pela terra.
Firma-se fundo contra a violência do vento. Busca seus nutrientes da terra e devolve
em troca oxigênio, sombra e moradia para pássaros. Sua vida parece em paz.
Talvez a árvore pense que não faz mal algum, que ninguém iria lhe machucar. E
continua a crescer e crescer.
Então as raízes se deparam com um muro. Algo que não esteve
ali no último século. Algo sem vida. A árvore não sabe que aquele muro faz
parte de uma propriedade privada. Ela não se importa que foi gasto alguns
tostões para construir aquele muro que separa a casa de sua calçada.
Suas raízes continuam a empurrar em busca de vida. O muro
racha. Talvez a árvore se sinta vitoriosa ou apenas livre. Talvez pense que
possa crescer por mais vários séculos e continuar a fazer seu bem ao ar, aos
animais e aos homens.
Mas a árvore desconhece das importâncias do mundo dos
homens. Os bens mortos e o dinheiro comandam as prioridades. Haveria muitos
gastos em refazer o muro mais afastado. Há material e mão de obra a se
considerar.
Um homem olha com raiva para a árvore. Resmunga que ela lhe
causará prejuízo, que vai contra a estética que o arquiteto planejou para seu
muro. Ele fez os cálculos, a árvore não lhe trás nenhum dinheiro.
E assim sem entender o que fez de errado a árvore é
derrubada sem piedade. É picada e queimada. A vida se esvai, mas o muro lá
continua esteticamente bonito.
Essa não foi apenas uma árvore azarada. Muitas outras têm o
mesmo destino. E no próximo século, ao invés do mundo contemplar o quanto as
árvores cresceram, ele vai contemplar as mais belas construções de ferro,
tijolo e concreto.
Serão lindas construções, afinal muito dinheiro foi
investido e é recebido de retorno. Talvez alguém perceba a falta das sombras e
dos pássaros ou na má qualidade do ar. Será que irão se importar?
Afinal vida não tem valor, mas muros sim. Muros custam dinheiro para
serem refeitos é mais fácil apenas derrubar a árvore. Ora, quem pensaria o
contrário?
S. G. Conzatti
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