7 de jan. de 2019

Quem roubou meu Glamour?

(conto com personagens coadjuvantes do livro Jovem Amor )
Rebeca olhou ao seu redor desiludida. Ela lutara tanto, mas estava longe de poder mostrar aos outros o seu verdadeiro poder. Desde novinha, sentia que nascera para brilhar. A mãe a fez acreditar como ela era especial. E Rebeca se convenceu que seria famosa de algum feito, que ganharia destaque entre a multidão e que viveria rodeada de glamour.
No entanto, a cada ano esse sonho morria mais um pouco. Primeiramente, pareceu impossível quando engravidara. Ao casar-se com Giovanni, pai da filha que esperava, tiveram anos de dificuldade financeira. Mesmo sentindo-se péssima, apoiou a carreira e os estudos do marido enquanto mantinha-se apenas em subempregos, nada glamorosos como ela projetara ao entrar na adolescência.
Seu marido conseguiu se tornar professor universitário e o padrão de vida que levavam finalmente começou a percorrer uma trajetória promissora. Ela pôde, finalmente, retomar seus estudos e investir em sua própria carreira. Seu sonho estava a poucos passos de ser concretizado.
Mas a realidade ainda a empurrava para longe do verdadeiro valor que sabia ter; passava por restaurantes caríssimos, bares da moda, lojas renomadas internacionalmente sem poder aproveitar nada do que via. Frustrava-se cada vez mais por ninguém perceber como ela se esforçava e era, sim, merecedora de tais coisas.
Quando comprara o seu apartamento, ficara encantada com a fachada envidraçada e moderna, um orgulho que lhe foi arrancado poucos anos após, pois agora não passava de um pequeno prédio oprimido por seus vizinhos imponentes. Todo dia, quando era obrigada a deparar-se com os novos prédios, mais e mais glamorosos e interessantes, Rebeca simplesmente não conseguia mais sentir-se à vontade em seu próprio lar. Trazer os amigos e colegas de serviço para esse simplório prédio passou a ver uma vergonha desesperadamente evitada.
Começou a trabalhar exaustivamente com o único objetivo de alcançar seus desejos: juntar dinheiro suficiente para mudar-se para a melhor cobertura do bairro mais importante da cidade. A cada olhada em sua conta bancária, esse sonho parecia mais distante. Então, se ocupava em pelo menos ela própria tornar-se o símbolo de sucesso, investindo em roupas chiquérrimas, cremes, perfumes, joias, um carro importado e móveis exclusivos, além de emperiquitar a filha e tentar deixar seu marido mais apresentável.
Giovanni, um caso perdido. Nunca usava as roupas finas que ela gastava tanto para comprar; sempre passeando horrivelmente de moletom pela casa ou pior, uma vergonha, indo assim até a padaria ou até a praça com a filha. Se não era possível mudá-lo, fazendo dele um homem requintado, pensou que talvez pudesse persuadi-lo a trazer uma quantia maior de dinheiro para o lar, auxiliando-a pelo menos a mostrar para todos o seu verdadeiro valor, comprando um apartamento melhor.
Tentou convencer seu marido a pegar um terceiro turno como professor na faculdade, mas ele não lhe deu ouvidos. Revoltou-se com o descaso dele, com a recusa de fazê-la feliz. Ele não a amava, ela soube disso naquele momento.
Sozinha em seus objetivos, decidiu que seria forte, que alcançaria por si própria seus sonhos. Redobrou seu horário no serviço, almejando conseguir logo uma promoção. Quem sabe poderia até se tornar uma das sócias da empresa se mostrasse como se importava e se esforçava.
Em seis meses de trabalho dobrado, Rebeca teve uma crise de estresse que a obrigou a ficar uma semana em casa; outro foi promovido em seu lugar, deixando-a mais longe da realização de seu sonho. Desamparada e perdida, concluiu que deveria desistir do sonho, que talvez não fosse realmente tão importante como pensara no passado. Resolveu dispensar mais tempo com sua filha. Tentou fazer da menina uma princesinha, desejando que pelo menos a pequena pudesse ser feliz e alcançasse no futuro o que ela, Rebeca, não conseguira.
Contudo, toda a vez que refletia sobre aquele montante de roupas e joias que não poderia comprar, quando via mais um belo prédio oprimindo o seu, quando ficava sabendo de alguma majestosa viagem realizada por seus colegas de serviços, ela tornava-se mais e mais amarga.
Seu tolo marido tentava convencê-la de que o importante era o amor e que as coisas simples eram o que contava.
“Como ele pode pensar assim? É preferível ter um carro magnífico a um qualquer. Ter um apartamento pequeno em um bairro nobre a um grande no bairro medíocre. Ele só quer se redimir pela sua falta de ambição e também pela sua falta de amor por mim. Nem ele reconhece meu valor.”
Tudo o que ela queria era sentir-se importante! Ela desejava ser convidada para festas da alta sociedade, poder conquistar aquilo que lhe era de direito. Cada vez que Giovanni reforçava a beleza de coisas insignificantes, ela tinha vontade de socá-lo, de fazê-lo acordar para a realidade, de mostrar que a vida apenas é miserável se estamos fadados a ser comuns.
Seu coração chegou ao limite quando seu marido lhe obrigou a passar mais uma tarde no sítio dos pais dele. Era a mesma história todo ano, mas dessa vez havia sido pior. Além da tarde ter sido completamente desprovida de luxo, uma “farofada” sem fim, uma das roupas mais caras de sua filha havia voltado manchada e rasgada, e o salto de seu sapato, uma peça caríssima cujas prestações ela ainda estava pagando, havia quebrado.
Naquela noite, decidiu que deveria seguir sua vida sem seu marido. Só realizaria seu sonho de grandeza se ele não estivesse mais ali para puxá-la para a mediocridade. Buscaria um advogado com rapidez, pois o quanto mais rápido se tornasse solteira, mais chance teria de encontrar um homem que realmente entendesse como ela era especial e pudesse junto dela conquistar todas as coisas pelas quais vale a pena lutar. Enfim, ela poderia se tornar uma princesa da vida real, como sua mãe sempre lhe disse que seria.
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Abraços, S. G. Conzatti. 

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