Algo em sua
vida transcorreu de maneira errada e inesperada e você sente-se péssima, sem
vontade de levantar-se. Sorrir novamente não parece possível.
Desanimada,
envolve o próprio corpo com os braços e abraça-se em busca de consolo.
Contempla
a janela da sua solitária sala, pessoas desconhecidas e, até alguns, vizinhos passam
pelas calçadas e atravessam ruas seguindo suas rotinas sem perceberem seus
olhos a acompanhá-los.
Jovens
ligeiros e atarefados, sempre impacientes, apesar de terem ainda um longo tempo
à frente. Outros, mais vividos, a passos lentos, admiram a vida na sábia visão
de que o tempo não pode ser vencido com marchas apressadas. E talvez, agora,
você tenha compreendido o mesmo.
Crianças
correm felizes ao retornarem da escola. Você pensa em sua infância e em como
tudo parecia mais simples, ou apenas inveja estes pequenos por terem uma juventude
que você não conheceu.
Homens
e mulheres surgem e desaparecem apressados no horizonte. Talvez estejam indo
para seus trabalhos, ou para uma entrevista de empregou, ou ainda para a
reunião que decidirá seu futuro financeiro. Um dia, você também esteve ansiosa
para chegar a algum destino. Neste instante, isso não lhe importa mais.
Uma
mulher de expressão cansada passa em frente a seus olhos, de mãos dadas com uma
pequena criança a questionar curiosa tudo a sua frente. Ela ignora as perguntas
ao caminhar mais rápido e forçar a pequena a correr com suas pernas pequeninas
para acompanhá-la.
Em
alguns momentos, talvez, você também não tenha prestado atenção às indagações
das crianças ao seu lado, por estar focada nas tarefas a fazer ou nas contas a
pagar. Afinal, qual vida adulta não é constantemente preenchida com obrigações
e preocupações?
Agora,
você deseja ter aproveitado melhor os momentos como este, pois as crianças que
lhe cercavam crescem, contudo as preocupações continuam por todo o lado.
O
tempo passou, você não notou e algumas coisas se perderam!
Sua
vizinha sai para passear com o cachorro. Você a vê sorridente e, pensa como seria
bom simplesmente dar uma volta pela rua no meio da tarde, ou que ter um animal
de estimação lhe traria melhor ânimo.
Talvez,
você já tenha um gato, cachorro, pássaro ou qualquer outro animal em sua
presença, só que no momento esta companhia não lhe faz sentir-se uma pessoa de melhor
sorte. Algo aconteceu, e você está tristemente derrotada.
Um
casal de adolescentes de mãos dadas, como se lhe provocasse, param ao meio do
caminho despreocupados para trocarem beijos apaixonados. Você lembra do tempo
em que fizera o mesmo, o tempo em que amou e foi amada. Um tempo que se perdeu
no passado.
Estranhamente,
nos pequenos momentos em que vislumbrou as vidas destes pedestres, eles pareciam
felizes ou, pelo menos, que tinham para onde irem, que buscavam alcançar um
objetivo.
Mas
você estava apenas ali os observando sem ânimo ou destino. Quase acreditando que infelicidade faz parte atualmente
do que você é.
Não
enxerga possibilidades de mudanças ou de continuar. Os acontecimentos da vida
lhe deram uma rasteira, e você desconhece como levantar-se.
Seus
olhos abandonam a janela e percorrem a estante de fotos: tantos rostos
sorridentes, pessoas que lhe são importantes ou que não estão mais presentes.
Lembranças
de uma existência inteira! Infinitas histórias povoam a sua estante. Histórias
prazerosas, ou de desilusão, de descobertas, de derrotas, mas também de
conquistas.
Histórias
compartilhadas com diferentes vidas ou secretamente suas.
Nesse
momento você conclui que a vida é repleta de antagonismos. Momentos ruins e
bons se alternam, se sobrepõem ou passeiam de mãos dadas durante anos.
Recorda
como o futuro sempre lhe trouxe surpresas: pessoas que nunca imaginou conhecer,
empregos foram trocados, amigos e amores vieram e foram, a família desentendeu,
houve perdões ou não...
Mudanças
ocorridas sem qualquer aviso prévio! Coisas inusitadas!
A
última vontade remanescente de recuperar-se a cutuca vasculhando em sua mente
histórias verídicas, ou lidas, ou ouvidas de pessoas que encontram a felicidade
nos lugares e momentos mais inesperados.
Uma
fraca esperança parece acender-se dentro de si.
Novamente
fixa seus olhos na janela, novas pessoas prendem sua atenção.
Em
nova análise, percebe que, talvez, haja entre os pedestres, pessoas que
enfrentem dificuldades maiores que a suas e mesmo assim estão seguindo adiante.
Você
respira, sente o ar fresco preencher seus pulmões, ao perceber-se viva
reconhece que não importa o péssimo momento em que se encontra sempre haverá
tantos outros acontecimentos.
Fecha
a janela e os olhos na busca silenciosa de encontrar a coragem perdida há algum
tempo dentro de seu peito.
Sabe
que precisará agir com seus próprios pés para recomeçar, ou transformar o que
lhe tornou uma pessoa triste.
A
modificação ainda pode demorar-se um pouco, isso já não lhe apavora, pois você compreendeu
que a vida é feita de momentos e sempre terá algum compensadamente bom que faça
simplesmente valer a pena viver.
Possuída
de expectativas, finalmente, você abre a porta da casa. Sente o calor do Sol no
seu rosto, sorri, atravessa o portão e retoma seu caminho confiante na
capacidade adquirida de colocar um pé à frente do outro e seguir com sua vida
por novas estradas.
S. G. Conzatti
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