(Conto de personagem do Clube da Árvore Solitária, presente na coletânea Ponte)
CAPÍTULO UM
O sol do final de verão atingia Vicente em sua potência, o jovem de dezesseis anos pingava de suor, no entanto ainda não entregaria os pontos e deixaria a pista de skate livre para o trio que o observava. Ele almejava acertar o salto duplo pelo menos duas vezes seguidas antes de desistir, apenas assim teria chance de entrar na competição amadora de skate que ocorreria na próxima semana.
Caiu mais uma vez acrescentando novos arranhões aos seus braços já esfolados, e causando as risadas dos observadores. Vicente ajeitou bruscamente seu skate embaixo do braço e finalmente se convenceu de que hoje não seria o dia no qual conseguiria realizar com perfeição um salto duplo, quanto mais dois.
Cabisbaixo, Vicente se afastou da pista. Observou de relance os jovens que agora ocupavam a pista, eles pareciam voar e desafiar qualquer Lei da Física, enquanto iam de um lado para outro realizando piruetas e saltos magníficos. Quando ele conseguiria ser assim tão bom?
A esperança de alcançar seu máximo até o final das férias e entrar no torneio, e quem sabe, se tornar um skatista profissional, esvaía-se aos poucos.
Em poucos dias ele deveria abandonar a casa da avó e retornar para o caos da vida real. O lugar onde Vicente morava durante o restante do ano, em companhia do pai, era solitário e tumultuado.
Seu pai pouco permanecia em casa e quando o fazia, ele e Vicente viviam como cão e gato. Talvez por terem gênios fortes e teimosos, ou talvez porque ambos ainda estivessem abalados com a partida da mãe de Vicente. A mulher não aguentava permanecer em um mesmo lugar por muito tempo: um espírito-livre e rebelde, como sua avó chamava a filha. Destas duas coisas Vicente entendia, pois se algo ele adquiriu de sua mãe, fora essas mesmas duas características. Se queria vê-lo transtornado bastava proibi-lo de passar seu tempo livre zanzando pela rua, não importava onde ele iria, ele apenas precisava sentir o vento.
Apesar de compreender a sensação, isso não o impedia de se sentir uma hora magoado, outra hora com raiva por ter sido deixado para trás. Mas ele evitava pensar nessas coisas, não era de perder tempo com lamentos. O que aconteceu já aconteceu, a vida devia continuar.
Na frente da casa da avó, Vicente parou por um instante, tentou arrumar sua bermuda e camiseta de maneira que parecesse um pouco mais um “netinho querido”, e menos um moleque esfarrapado.
Com a roupa ele até conseguiu um resultado quase satisfatório, se ignorássemos as manchas de barro, no entanto os arranhões dos braços e joelhos não tinham maneiras de esconder.
Vicente abriu a porta da varanda dos fundos espiando para dentro com esperança de não ser visto pela avó e assim poder correr até o quarto para catar uma roupa que melhor tapasse seus novos ferimentos.
— Vicente! — Sua avó chamou animada, infelizmente ela preparava um lanche e o viu entrar pela porta dos fundos. — Vem, querido! Fiz torradas.
— Vou me trocar primeiro.
Ele tentou passar ligeiro por ela com os braços escondidos nas costas, após dar dois passos a voz rouca de sua avó se pronunciou preocupada.
— Querido! Você está todo arranhado! — Ela o encarou fazendo sinal para ele se aproximar, com o objetivo de poder analisar melhor. Vicente obedeceu envergonhado. — Eu não devia ter comprado esse negócio com rodinhas para você. É um brinquedo perigoso!
— É um skate, e não um brinquedo! — Vicente resmungou contrariado ao se sentar na cadeira da sala à espera que a avó trouxesse a caixa onde ela guardava ataduras, merthiolate e outras coisas para emergência. — É um esporte radical, têm até Competições Internacionais.
— Um esporte? — Sua avó questionou incrédula ao derramar o merthiolate sobre o joelho de Vicente. Ele confirmou com seriedade. Ela riu. — Bem, se diz que é, eu acredito. Mas, Vicente, é tão perigoso! Não prefere fazer natação? Já contei que seu avô foi campeão de nado borboleta juvenil? Ele...
Vicente suspirou impaciente esperando que sua avó contasse novamente toda a história de como o avô era bom nadador enquanto enchia as pernas e braços dele com enormes gazes e esparadrapos.
Curativos que ele se livraria assim que alcançasse o quarto. Por mais que a avó fingisse não ver, ele não era mais um garotinho para andar pela rua como uma múmia cheia de pedaços de panos.
Sem contrariar a avó, Vicente comeu suas torradas. Fingia ouvir os últimos detalhes de como seu avô conseguiu superar seu adversário por ter uma técnica avançada de respiração, enquanto na sua mente ele repassava os movimentos necessários para seu salto duplo, como se isso ajudasse seu corpo virar e revirar no momento certo.
Na teoria ele sabia tudo o que precisava ser feito, mas ainda não conseguira atingir o tempo exato que lhe permitisse cair sobre o skate ao invés de ficar estirado no chão.
Caiu mais uma vez acrescentando novos arranhões aos seus braços já esfolados, e causando as risadas dos observadores. Vicente ajeitou bruscamente seu skate embaixo do braço e finalmente se convenceu de que hoje não seria o dia no qual conseguiria realizar com perfeição um salto duplo, quanto mais dois.
Cabisbaixo, Vicente se afastou da pista. Observou de relance os jovens que agora ocupavam a pista, eles pareciam voar e desafiar qualquer Lei da Física, enquanto iam de um lado para outro realizando piruetas e saltos magníficos. Quando ele conseguiria ser assim tão bom?
A esperança de alcançar seu máximo até o final das férias e entrar no torneio, e quem sabe, se tornar um skatista profissional, esvaía-se aos poucos.
Em poucos dias ele deveria abandonar a casa da avó e retornar para o caos da vida real. O lugar onde Vicente morava durante o restante do ano, em companhia do pai, era solitário e tumultuado.
Seu pai pouco permanecia em casa e quando o fazia, ele e Vicente viviam como cão e gato. Talvez por terem gênios fortes e teimosos, ou talvez porque ambos ainda estivessem abalados com a partida da mãe de Vicente. A mulher não aguentava permanecer em um mesmo lugar por muito tempo: um espírito-livre e rebelde, como sua avó chamava a filha. Destas duas coisas Vicente entendia, pois se algo ele adquiriu de sua mãe, fora essas mesmas duas características. Se queria vê-lo transtornado bastava proibi-lo de passar seu tempo livre zanzando pela rua, não importava onde ele iria, ele apenas precisava sentir o vento.
Apesar de compreender a sensação, isso não o impedia de se sentir uma hora magoado, outra hora com raiva por ter sido deixado para trás. Mas ele evitava pensar nessas coisas, não era de perder tempo com lamentos. O que aconteceu já aconteceu, a vida devia continuar.
Na frente da casa da avó, Vicente parou por um instante, tentou arrumar sua bermuda e camiseta de maneira que parecesse um pouco mais um “netinho querido”, e menos um moleque esfarrapado.
Com a roupa ele até conseguiu um resultado quase satisfatório, se ignorássemos as manchas de barro, no entanto os arranhões dos braços e joelhos não tinham maneiras de esconder.
Vicente abriu a porta da varanda dos fundos espiando para dentro com esperança de não ser visto pela avó e assim poder correr até o quarto para catar uma roupa que melhor tapasse seus novos ferimentos.
— Vicente! — Sua avó chamou animada, infelizmente ela preparava um lanche e o viu entrar pela porta dos fundos. — Vem, querido! Fiz torradas.
— Vou me trocar primeiro.
Ele tentou passar ligeiro por ela com os braços escondidos nas costas, após dar dois passos a voz rouca de sua avó se pronunciou preocupada.
— Querido! Você está todo arranhado! — Ela o encarou fazendo sinal para ele se aproximar, com o objetivo de poder analisar melhor. Vicente obedeceu envergonhado. — Eu não devia ter comprado esse negócio com rodinhas para você. É um brinquedo perigoso!
— É um skate, e não um brinquedo! — Vicente resmungou contrariado ao se sentar na cadeira da sala à espera que a avó trouxesse a caixa onde ela guardava ataduras, merthiolate e outras coisas para emergência. — É um esporte radical, têm até Competições Internacionais.
— Um esporte? — Sua avó questionou incrédula ao derramar o merthiolate sobre o joelho de Vicente. Ele confirmou com seriedade. Ela riu. — Bem, se diz que é, eu acredito. Mas, Vicente, é tão perigoso! Não prefere fazer natação? Já contei que seu avô foi campeão de nado borboleta juvenil? Ele...
Vicente suspirou impaciente esperando que sua avó contasse novamente toda a história de como o avô era bom nadador enquanto enchia as pernas e braços dele com enormes gazes e esparadrapos.
Curativos que ele se livraria assim que alcançasse o quarto. Por mais que a avó fingisse não ver, ele não era mais um garotinho para andar pela rua como uma múmia cheia de pedaços de panos.
Sem contrariar a avó, Vicente comeu suas torradas. Fingia ouvir os últimos detalhes de como seu avô conseguiu superar seu adversário por ter uma técnica avançada de respiração, enquanto na sua mente ele repassava os movimentos necessários para seu salto duplo, como se isso ajudasse seu corpo virar e revirar no momento certo.
Na teoria ele sabia tudo o que precisava ser feito, mas ainda não conseguira atingir o tempo exato que lhe permitisse cair sobre o skate ao invés de ficar estirado no chão.
Leia o próximo capítulo (em breve)
Beijinhos, S. G. Conzatti
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