(Conto com personagem do Clube da Árvore Solitária, presente na coletânea Ponte)
Capítulo Um
Todo o verão, sua mãe, uma ocupada doceira, resolvia aproveitar a temporada para aumentar o orçamento apertado de todo o ano, e alugava à beira-mar uma barraquinha de churros e crepes. Deste modo, Eduarda passava o verão servindo lanches, entregando trocos e cozinhando saborosos recheios a serem colocados dentro da máquina de churros.
Desanimada, ela pegou a nota de cinquenta reais que uma cliente lhe estendia. Olhou o caixa, frustrada, por não ter dinheiro suficiente para lhe devolver o troco.

— Mãe! — Eduarda chamou, nem precisou levantar a voz, pois a barraca era minúscula, mãe e filha tropeçavam uma na outra todo o tempo. — Estou sem troco!
Sua mãe esticou os olhos para o caixa, equilibrando numa das mãos dois churros e na outra a jarra com a massa do crepe.
— Filha, tente trocar o dinheiro nas outras barracas.
Resmungando para si, Eduarda abandonou a barraquinha com a nota de cinquenta reais presa entre os dedos. Passar nas barracas vizinhas era o que ela mais odiava de suas tarefas de ajudar a mãe no verão.
A mulher suada da banca de pastéis olhou torto para Eduarda quando esta lhe mostrou a nota, e num aceno mal-humorado deixou claro que não estava interessada em realizar tal troca. Eduarda tentou também com o bigodudo da banca de peixes, com o velho estranho da banca de cachorro-quente, sem sucesso algum.
Ela estava convencida a retornar para a sua banca e informar à cliente que desistisse de comprar um churro. Afinal, a mulher podia ir lanchar no restaurante do hotel, se possuía na carteira só notas altas. Eduarda pensou com raiva.
— Menina dos churros! — Uma voz a chamou, ela virou-se em reflexo, pois durante todo o verão esse praticamente passara a ser seu nome. Com certeza isso não lhe agradava, mas ainda era melhor do que os apelidos que normalmente lhe acompanhavam na escola. — Eu tenho notas trocadas.
Ela sorriu aliviada ao perceber que a mulher de longas tranças rastafáris da banca de sucos naturais acenava para ela. Correndo, Eduarda atravessou a rua para ir ao encontro de sua salvadora. Ela nunca fora na banca de sucos naturais, por ser do outro lado da rua e por ela não ser uma grande adepta de frutas.
— Obrigada! — Eduarda se adiantou ao estender o braço com a nota já um pouco amarrotada de tanto sacudir em direção aos outros comerciantes. — Achei que não conseguiria trocar!
— Hoje é seu dia de sorte! — A mulher riu fazendo seus enormes brincos tilintar com o movimento de sua cabeça. — Pode ser tudo em notas de cinco?
— Claro!
— Bob! — A mulher gritou para os fundos da banca.
Por trás de uma cortina colorida que ocultava a cozinha da barraca, um garoto alto e magro apareceu, segurando um saco de laranjas.
— Pô, mãe, estou fazendo o suco. O que quer?
— Olha a língua! — A mulher riu. — Traz dez notas de cinco do esconderijo, a menina dos churros precisa de troco.
— Ah! — O garoto olhou por um tempo para Eduarda, confuso. Então sorriu maroto. — Trago num instante!
Com as pernas já cansada, ela se escorou no balcão enquanto esperava, Bob fora rápido em surgir a sua frente sacudindo várias notas de cinco, como quem ganhou algum ingresso importante e quer mostrar a todos.
— Prontinho! — Ele riu ao estender as notas para ela. — Se precisar de troco novamente é só vir aqui.
— Obrigada.
Acanhada ela acenou para Bob e para a mãe dele, que sorriu simpática. Com passos largos ela tratou de retornar para a chatice de sua barraca.
Sua mãe deveria estar desesperada à espera do troco, contudo fora a sensação engraçada sentida por Eduarda que lhe fez querer se afastar daquela banca de suco, onde havia um rapazinho magro e alto que ainda acompanhava seus passos com olhar curioso.
Leia o próximo capítulo (em breve)
Beijinhos, S. G. Conzatti
Nenhum comentário:
Postar um comentário